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Kyringue Arandua: espaço de infância guarani
CLIENTE: Aldeia Yynn Morotti Wherá
LOCALIZAÇÃO: Biguaçu - SC
STATUS: Obra concluída 2023
TIPO: Educacional
ARQUITETURA: Baixo Impacto Arquitetura
EXECUÇÃO: Daterra Bioconstrução, Baixo Impacto Arquitetura, Arq Terral, Emboá saneamento Ecológico
FOTOGRAFIA: Acervo Kyringue Arandua
Estratégias bioclimáticas:
Ventilação natural permanente: corrente cruzada e termosifão;
Iluminação Natural;
Resfriamento evaporativo;
Aquecimento solar passivo.
Técnicas construtivas:
Estrutura em eucalipto roliço
Telhado jardim leve;
Paredes em pau-a-pique
Reboco de cal e terra
Pintura com tintas naturais
Sobre o processo
O Espaço de Infância Guarani Kyringue Arandua, localizado na Aldeia Yynn Moroti Wherá, em Biguaçu/SC, é fruto de uma prática integrada de ensino, pesquisa e extensão que articula arquitetura, cultura, território e educação. O projeto nasceu de um sonho coletivo da comunidade Guarani e foi idealizado por Silvana Minduá Veríssimo, professora e pesquisadora indígena Guarani e mestranda em Educação Infantil pela UFSC, que vislumbrou um espaço para acolher as crianças de 3 a 6 anos da aldeia e fortalecer a transmissão dos saberes ancestrais por meio da educação e do brincar.
A trajetória do Kyringue Arandua foi conduzida por uma equipe de gestão inteiramente feminina, que reuniu sensibilidade, técnica e compromisso comunitário. Silvana Minduá Veríssimo liderou a concepção pedagógica e cultural; Karina Figueiró, Marina Risi e Ana Ruivo coordenaram a mobilização, a articulação de parcerias e o acompanhamento das etapas de obra; e o escritório Baixo Impacto Arquitetura integrou o grupo como parte técnica, contribuindo com o desenvolvimento do projeto arquitetônico e ministrando oficinas formativas voltadas à bioconstrução e ao diálogo entre saber técnico e ancestral.
O processo foi marcado por metodologias participativas, decoloniais e interdisciplinares, envolvendo a comunidade Guarani, lideranças, mães, professores e técnicos em um percurso de aprendizado coletivo. A construção foi realizada em mutirão, ao longo de oficinas e vivências práticas, transformando o canteiro em espaço de formação e convivência. A Da Terra Bioconstrução teve papel essencial na execução e facilitação das etapas construtivas, aplicando com maestria e sensibilidade técnicas de terra crua, madeira e cobertura verde. O escritório Terral Arquitetura também integrou todo o processo, contribuindo para a consolidação do projeto.
O projeto também contou com a contribuição da empresa Emboá – Saneamento Ecológico, responsável por desenvolver e implementar o sistema de tratamento ecológico de efluentes, pautado em princípios de educação ambiental e regeneração. Essa abordagem integra o ciclo da água ao cotidiano da escola, devolvendo-a limpa à natureza e reforçando o compromisso do projeto com práticas sustentáveis e pedagógicas.
Arquitetonicamente, o Kyringue Arandua é um espaço feito de materiais naturais — terra, pedra, madeira e vegetação —, em harmonia com o território e os modos de vida Guarani. Seu espaço central octogonal é coberto por uma viga recíproca, estrutura em que cada elemento sustenta o outro, simbolizando a interdependência e a cooperação que fundamentam tanto a filosofia Guarani quanto o processo coletivo de ensino e construção.
Após a conclusão da obra, o Kyringue Arandua foi incorporado à rede municipal de ensino de Biguaçu, tornando-se uma escola pública indígena. Professores formados em Licenciatura Intercultural Indígena, pertencentes à própria aldeia, conduzem as atividades pedagógicas, fortalecendo a educação como continuidade cultural e pertencimento. Assim, o espaço transcende o papel institucional e se afirma como território de aprendizagem, identidade e resistência.
O projeto foi fortalecido por ações de extensão e mobilização cultural, como festivais e eventos colaborativos que reuniram arte, música e espiritualidade em apoio à infância Guarani. Essas iniciativas ampliaram a rede de solidariedade e promoveram a valorização da diversidade étnica e cultural.
O Kyringue Arandua é, portanto, um exemplo vivo de prática formativa e transformadora em arquitetura, guiada por mulheres, saberes locais e pela força da coletividade. Integra ensino, pesquisa e extensão em uma experiência sensível e crítica, que une sustentabilidade, cultura e infância. Mais do que uma escola, é um símbolo de continuidade, cuidado e futuro compartilhado.

































