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casa abacateiro
CLIENTE: Particular
LOCALIZAÇÃO: Campeche, Florianópolis - SC
STATUS: Obra concluída 2023
TIPO: Residencial
ARQUITETURA: Ana Ruivo
EXECUÇÃO: daTerra Bioconstrução
FOTOGRAFIA: Oolhar.co
Estratégias bioclimáticas:
Ventilação natural: corrente cruzada e termosifão;
Iluminação Natural;
Alta Inércia térmica nas coberturas;
Resfriamento evaporativo;
Aquecimento solar passivo.
Técnicas construtivas:
Estrutura mista: Concreto armado, madeira de demolição e viga metálica.
Telhado jardim;
Paredes em terra crua: técnica de pau-a-pique;
Revestimentos naturais;
Mobiliário feito no local e revestido com cimento queimado;
Piso de cimento queimado;
Assoalho de madeira de demolição.
Casa Abacateiro — A forma segue o clima.
A Casa Abacateiro nasce do desejo de criar um espaço de convivência generoso e sensível ao entorno, onde interior e exterior se fundem de modo orgânico, revelando uma arquitetura que se abre à paisagem e responde ao clima. Em um terreno voltado ao nordeste, buscamos desenhar uma casa que fosse, ao mesmo tempo, abrigo e prolongamento do jardim — um espaço vivo, permeável e de baixo impacto ambiental.
Desde o partido inicial, as estratégias bioclimáticas foram determinantes. Dividimos a casa em dois blocos principais: o bloco sudoeste, mais fechado e denso, abriga dormitórios, banheiros e áreas de serviço — funcionando como barreira térmica e de proteção aos ventos frios do sul —, enquanto o bloco nordeste é o espaço social, amplo e permeável, estruturado em madeira de demolição. Essa dualidade material e térmica organiza o cotidiano e responde diretamente à orientação solar, garantindo conforto térmico e eficiência energética sem dependência de sistemas artificiais.
O conjunto é unificado por uma sequência de coberturas ajardinadas em diferentes níveis, que cumprem papel central na climatização passiva. As diferenças de altura entre as lajes permitem a criação de aberturas de ventilação altas, que favorecem o efeito chaminé (ou termosifão), promovendo o resfriamento natural durante o verão. O ar quente é expelido pelas aberturas superiores, enquanto o ar fresco circula pelas janelas baixas em ventilação cruzada.
No inverno, as mesmas coberturas controlam a entrada de luz solar — ora sombreando, ora permitindo o ganho térmico — graças aos vãos estrategicamente posicionados e a planos translúcidos com filtragem em bambu. As coberturas vegetadas também contribuem para o aumento da inércia térmica, a retenção da umidade, a redução do efeito de ilha de calor e a restauração da superfície verde do lote, ampliando a biodiversidade e criando percursos de contemplação que culminam na vista do mar.
Entre os blocos, uma parede de terra crua construída na técnica tradicional de pau a pique estabelece o eixo material e simbólico da casa. Mais do que elemento plástico, ela é uma solução bioclimática fundamental: durante o dia, acumula o calor do sol de inverno e o libera gradualmente à noite, equilibrando as variações térmicas típicas de Florianópolis. Sua porosidade natural atua no controle da umidade interna, absorvendo o excesso e devolvendo o equilíbrio ao ambiente. Com um reboco de terra e uma “janela da verdade” que revela sua composição, essa parede conecta o saber ancestral à inovação técnica contemporânea, traduzindo o que entendemos por arquitetura de baixo impacto: aquela que emerge do território e dialoga com seus ciclos.
A escolha dos materiais reforça esse compromisso com a sustentabilidade e a circularidade. As madeiras de demolição trazem história, textura e baixa pegada de carbono; o ferro é usado pontualmente, onde o vão exige precisão e leveza; o pau a pique e os revestimentos de cal remetem às práticas construtivas locais e à produção de baixo impacto. Optamos por não ocultar a matéria, mas celebrá-la — cimento, ferro, terra e madeira coexistem em um equilíbrio cromático e sensorial que expressa honestidade construtiva.
Com essas decisões, a Casa Abacateiro se insere no debate sobre as Emergências Climáticas como uma proposta de resiliência material e ambiental, que alia técnica e poética, saber local e inovação. Em um tempo de intensas transformações climáticas e urbanas, acreditamos que a arquitetura deve não apenas reduzir impactos, mas também restaurar relações — entre pessoas, clima e paisagem. A casa, neste contexto, é um organismo vivo: respira, regula, absorve e devolve energia — e, ao fazê-lo, reconecta o habitar ao ciclo vital da terra.

































